Pai assiste a aulas e ajuda filho com paralisia a se formar jornalista
Por Jairo Marques (Folha de S. Paulo)
“Não fiz nada demais. Qualquer pai que tem amor ao filho também se dedicaria. Era um desejo dele fazer faculdade, e eu só ajudei a realizar”, diz Manuel, com os olhos marejados.
“O único ponto meu que ainda não foi operado é o cérebro”, brinca o jovem, que lida com naturalidade com o estereotipo de que paralisados cerebrais, necessariamente, têm comprometimentos intelectuais.
DESTAQUE DA TURMA
O rapaz não só tem pleno domínio do intelecto como, na avaliação de colegas de turma e de professores, foi um dos melhores alunos.
“Com o apoio do seu Manuel, o Marcão fez tudo: vídeo para TV, programa de rádio, debate. Ele se destacou muito. Tinha ideias contundentes e sempre se saia bem nas provas”, conta Raquel Brandão Inácio, amiga do jovem e parte de seu grupo de trabalho de conclusão de curso, sobre novas famílias.
Professor e agora colega de profissão do rapaz, Celso de Freitas diz que pai e filho “quebram um cenário comum de pessoas com deficiência, que é ficar dentro de casa e não enfrentar a vida.”
Para o mestre, “Marco tem inteligência acima da média, e Manuel foi tratado como um aluno, não como um acompanhante. Nas aulas de rádio, propus a eles fazerem apenas trabalhos escritos, mas, a sua maneira, entregavam gravações de áudio.”
EXTENSÃO DO CORPO
O protagonismo que o pai teve e tem em sua vida é claro para o jornalista.
“Ele é uma extensão do meu corpo. Quando não posso fazer algo, ele está sempre ali para me ajudar, nunca para me atrapalhar”, afirma Marcos.
Agora, o jovem, que gosta de rádio e de esportes, está atrás de uma vaga no mercado de trabalho.
“Quero usar o conhecimento que adquiri, quero ajudar os outros com meu trabalho. Não fiz faculdade para ficar no Facebook.”
Pai e filho já começaram uma nova empreitada: estão fazendo aulas de inglês. Juntos, evidentemente.
“Nossa família está unida para tentar ajudar o Marcos a quebrar outras barreiras”, declara Manuel.
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